sexta-feira, 15 de junho de 2007

Os cosméticos verdes

Produtos de beleza orgânicos prometem ser mais suaves e seguros, mas será que são mesmo? Especialistas questionam a novidade.

AMARÍLIS LAGE
da Folha de S.Paulo

Nem só de frutas e verduras vive agora o mundo dos produtos orgânicos. Na segunda onda que impulsiona o setor, a categoria passa a incluir mel, bebidas, remédios, tecidos e artesanato. Liderando essa diversidade, uma nova vedete: os cosméticos orgânicos.
Não se trata de cremes caseiros ou da já tradicional estratégia de cobrir os olhos com rodelas de pepino "cultivados organicamente". Nada disso.
São hidratantes, óleos e loções feitos com ingredientes naturais, embalados em recipientes recicláveis e vendidos por um preço acima da média, com a promessa de mais suavidade e menos risco à saúde.
O mercado é recente e ainda carece de regulamentação - ao contrário do que ocorre com os alimentos, cujas normas para a produção orgânica são definidas pelos governos, nenhum país tem regras oficiais para definir o que é ou não um cosmético orgânico. Por isso, os critérios variam de acordo com a certificadora.
A tendência, porém, é que as regras para a produção de cosméticos orgânicos sejam cada vez mais parecidas, já que as certificadoras têm buscado uma harmonização, afirma Vanice Dazzo Schmidt, da Ecocert. A certificadora francesa foi uma das primeiras a criar um selo específico para cosméticos, em 2003, e hoje busca padronizar suas as regras com a certificadora alemã BDIH.
Entre os consensos que já norteiam o setor estão a não-aceitação de testes em animais e do uso de material transgênico, por exemplo.
O critério mais polêmico, porém, é o que toca no ponto mais óbvio da questão: um cosmético orgânico tem de contar com ingredientes orgânicos. Mas em que quantidade? Algumas certificadoras oferecem selos para produtos com 5% ou 10% de ingredientes orgânicos. Outras, como o IBD (Instituto Biodinâmico), só certificam como orgânicos produtos com pelo menos 95% de ingredientes nessa categoria.
"Colocar menos que isso e chamar de orgânico é um desserviço. É enganar o consumidor", afirma o agrônomo José Pedro Santiago, representante do IBD em São Paulo.
"Alguns usam um pouco de orgânicos só como marketing", afirma Falk Weltzien, diretor-geral da Cassiopéia, que fabrica cosméticos orgânicos.
Para Maria Beatriz Martins Costa, diretora do portal Planeta Orgânico e da feira BioFach, problemas desse tipo existem há muito tempo e dependem de um posicionamento oficial. "O governo precisa se envolver e definir quais produtos são orgânicos."
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), porém, ainda não planeja fazer uma regulamentação especial para esse tipo de cosméticos.


Fonte: Equilíbrio - Folha de S.Paulo - 21/09/2006
Veja mais em: Biofach

Nenhum comentário: